Com vocês, Transmorphers!!!
Foi no mínimo curioso descobrir que Tim Story, diretor da série, disse ter compreendido que Quarteto Fantástico teve muitas falhas e que gostaria de concerta-las na continuação. De uma forma indireta, ele confessou "não ter feito o melhor trabalho" com a franquia. Declaração esta, que me deixou com muito mais expectativas para conferir o filme no cinema do que deveria (afinal de contas, o original foi mesmo um fiasco). O resultado? O Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado é um filme superior ao primeiro, que consegue divertir casualmente ao mesmo tempo que não ofende, tanto aos fãs como também ao público cinéfilo que aprecia a um filme pipoca que não seja estúpido.
É aí que Tim Story mostra seus primeiros triunfos: a capacidade de construir um filme que não tem a proposta de se levar tão a sério, mas sem que com isso deixe de gerar suspense nos momentos necessários. Assim, quando o Surfista surge diante dos protagonistas pela primeira vez, somos acompanhados por uma sequência eletrizante (já mostrada no primeiro teaser) de uma perseguição aérea. É uma bela cena que evoca a tensão necessária para percebermos o quão ameaçador o Surfista Prateado é. Da mesma forma, todas as cenas de ação (mesmo as que não tem como propósito o simples herói Vs vilão) se mostram lógicas à sua própria natureza, e não uma simples brincadeira do filme (ainda me lembro da embaraçosa trilha que acompanhava muitas das sequencias de "ação" do filme original). Outro detalhe que preciso evidenciar, foi algumas cenas que me chamaram a atenção. Curioso constar uma forte crítica que diz respeito à futilidade humana, que prefere ver qual brinco uma celebridade irá usar no casamento do que saber de uma catástrofe com proporções mundiais (uma alegoria clara ao aquecimento global, já que o longa mostra numa passagem poucos minutos depois, a possibilidade de mundaças climáticas que acontecem na história serem por causa do aquecimento). Curioso também (e digo desta vez que não foi para o bem), foi ver uma gigantesca propaganda da marca Dodge, em que o personagem que a faz diz logo em seguida: O que você tem contra o capitalismo? Mas com certeza a crítica mais forte foi aquela na qual Sue assiste constrangida à um progama de fofocas da E! (não sei como se chama) e Reed logo desliga a televisão e diz: Por que você assiste esse lixo? (que aparece como uma forma de desabafo às celebridades que não conseguem viver nem um minuto longe das câmeras).
Com boas cenas de ação e uma história que não cheira tão bem mas também não fede, Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado é, diferente do primeiro episódio, um filme divertido que vale o preço do ingresso, e que apesar de não ser nenhum marco nos filmes de heróis, merece minha recomendação.
Existe uma "fórmula mágica" na narrativa de todo Shrek, que aproveita da combinação de piadas tão inspiradas, uma história bem produzida com personagens interessantes e uma ótima trilha sonora com uma proposta bem diferentes dos clássicos musicais da Disney, já que aqui elas servem como trilha de fundo (substituindo as "quase-cafonas" peças musicais cantadas pelos próprios personagens). Aliás, é justamente nessa inversão de propostas, de se mostrar sempre disposto a satirizar alguns dos maiores clichês dos desenhos da Disney, que reside o maior charme de Shrek. Infelizmente nesse terceiro episódio, essas propostas pareceram muitas vezes esquecidas, dando lugar a um humor pastelão (com inúmeras gags envolvendo peidos e rotos, só para citar alguns exemplos) e um drama água-com-açucar sobre a importancia de acreditar em sí mesmo, não ligar para que os outros pensam, etc... E enquanto a sutilidade marcou alguns dos emocionantes acontecimentos dos dois primeiros longas, aqui a obviedade parece ser o melhor caminho para cativar o espectador.
Mas isso não significa que o filme seja abaixo da média. Pelo contrário, existem tantos elementos interessantes ao longo de sua 1 hora e meia de projeção, que se torna até um tanto dificil criticar os pontos fracos da animação (que acaba ficando um pouco abaixo dos episódios anteriores). E é interessante perceber novamente como Shrek não é voltado exclusivamente para o público infantil. Isso é perceptível desde sua fantástica trilha (incluindo faixas de Ramones e Led Zepellin) e momentos absurdamente hilariantes, que muitas vezes podem passar despercebidos pelo publico mais jovem, como na cena em que o capitão gancho (sim, ele está no filme) procura Peter e Wendy obcecadamente, além das claras referências de filmes como O exorcista, O Homem de 6 Milhões de Dólares, O Bebê de Rosemary, Cantando na Chuva, A Noviça Rebelde e A Primeira Noite de um Homem (muitas das quais o público infantil simplesmente não reconhecerá).
Apesar de alguns problemas, Shrek Terceiro passa longe de ser uma experiência frustrante. Divertido como uma animação deve ser, com o charme e o carisma daqueles que tanto já nos cativaram, o filme é no final das contas, um divertidíssimo passa-tempo. E apesar de leve queda de qualidade em relação aos capitúlos anteriores, não me surpreendo se esse episódio ser o favorito ao Oscar 2008 de melhor animação.