domingo, 20 de abril de 2008

The Air I Breathe

Depois de assistir aos 97 minutos de projeção, não consegui deixar de me perguntar se estava diante de um clássico cinematográfico ou apenas um filme razoavelmente bom. E a razão disso é: The Air I Breathe (ainda sem título em português) emociona com situações marcantes e diálogos inteligentes, entretanto não consegue escapar de inúmero clichês do gênero, abandonando totalmente a sutileza geralmente encontrada em obras independentes. O resultado é uma salada de frutas entre grandes momentos e alguns deslizes infelizes, mas com um saldo felizmente positivo.

A história gira em torno de um provérbio chinês que divide a vida em quatro estágios: felicidade, prazer, tristeza e amor. Cada estágio conta o drama particular de um personagem em contos que se interligam. O curioso aqui, é a forma com que cada personagem vive sua história, e a "conclusão" de cada uma delas é sempre imprevisível, com um desfecho que pode não agradar a todos, mas com certeza merece aplausos pela ousadia.

Sem medo de se tornar inverossímil, Jieho Lee aposta em um pouco de misticismo na trama, característica essa, que deve ter desagradado muita gente (o filme está com uma nota baixíssima no Rotten Tomatoes, site que faz uma média de críticos de todo globo). Brandon Fraser é um homem que consegue ver o futuro e não consegue muda-lo. E apesar do conceito aparentemente batido, a forma com que o filme leva o personagem com este estranho dom é incrivelmente interessante. Ele jamais questiona a origem dos seus poderes, e as pessoas em sua volta lidam com isto como se fosse uma mera habilidade. No entanto, seu dom acabou se transformando em uma maldição, já que seguindo a vida deste modo, ele percebeu o quão impotente somos ao tentarmos fazer nossas próprias escolhas, num mundo onde o destino de cada um já está traçado, e a conclusão deste conto é extraordinária por ser absolutamente simples e expressiva.

Se Bradon Fraser merece os parabéns pela sua atuação (este que já se mostrou um ator competente, ao alternar entre filmes sérios e cômicos), Forest Whitaker destaca com seu personagem, ilustrando a ultima situação que alguem pode esperar em seu desfecho (felicidade). E a maneira como seu personagem é conduzida, é divertida e energica (embora um tanto unidimensional). Já Sarah Michelle Gellar exibe talvez a melhor performance da sua até então medíocre carreira, conferindo a Trista uma complexidade surpreendentemente admirável. Kevin Bacon nos mostra o habitual, sua capacidade em construir bons personagens, e seu conto (amor) foi sabiamente escolhido para ser o último, pela intensidade emocional despertada no expectador. Por fim, Andy Garcia cria um chefão (o Sr. Fingers) com o brilho que já estamos acostumados em ver.

Caindo em alguns clichês (principalmente no final), The Air I Breathe peca somente por abusar de algumas coincidências. Eu já me acostumei com elas, principalmente em filmes que alterna frequentemente o POV (ponto de vista da história, vide o excelente Crash) e não me sinto incomodado, embora acredite que a sutileza e verossimidade sejam alguns dos recursos que mais insiram o expectador dentro da história (e como não poderia deixar de perceber isto, ao assistir no mesmo dia o maravilhoso Encontros e Desencontros?). Apesar disso, a história vale pelo seus personagens, e por nos fazer vivenciar vidas tão diferentes, que no final das contas, aprendemos um pouco com elas.

Um comentário:

Anônimo disse...

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